Era uma vez um menino pobre, negro, filho de mãe comerciante a pai desconhecido. Sua pouca idade, menos de 8 anos, ainda lhe fechava os olhos para muitas coisas, mas não para a dor de ver sua mãe ser morta a facadas.
Menino pequeno, mas de grande magoa no coração, um dia sai mundo a fora tentando esquecer tudo o que havia visto. Então parece que a história começa agora...
Dormiu na rua, usou droga, sentiu fome, precisou roubar, foi detido nas instituições de menores infratores, fugiu e ficou algum tempo nesse vai e vem. Voltou para a e da Candelária de onde muitos dos seus “companheiros “ não voltaram depois da chacina. Sim, ele escapou de lá com vida. E mesmo assim a vida continua não é? A sua não continuou sem mudanças? Então porque a dele mudaria?
O tempo passou, ele cresceu, a cola continuou, os roubos também; só a detenção mudou. Agora ele habitava um presídio. Mas lá também nada mudou, pois encontrou dentro de uma cela as condições mais subumanas possíveis. Na vida dele nada mudou, na sua mudou sabendo da situação dos presos nas carceragens?
E mais uma vez ele fugiu, fugiu pela oportunidade, mas dentro dele um conflito. Menino de bom comportamento enquanto interno do sistema, mas que precisava dançar conforme a musica. Então, mais uma vez lá foi ele mundo a fora.
Menino sem eira nem beira tentou se fixar na casa de alguém que resolveu lhe acolher, uma das poucas pessoas capazes de estender a mão a quem por muitos é visto (quando é visto) como marginal, vagabundo e criminoso. O povo o julga, mas não julga quem o levou até este caminho.
Então um destino havia sido traçado, mais ou menos quinze anos haviam passado e dentro de um ônibus o fim foi consumado. Momento certamente esquecido por todos, assim como o último candidato em quem votaram na última eleição. Dentro do coletivo o resultado de uma coletividade.
Então, diante do mundo a polícia mostra todo o preparo que tem para protegem a sociedade, deixa passar todas as oportunidades que teve para acabar com o evento. Acaba com a vida dos reféns (literalmente) e com a vida de todos que vivenciaram ou assistiram ao fato. Gente inútil.
Um ônibus seqüestrado, reféns vencidas pelo medo, do lado de fora policiais despreparados e uma população querendo a cabeça do monstro que criaram. Cadê a lógica? Simples: Somos a maior reunião de estúpidos de todo o universo.
Resultado: Um tiro certeiro (ufa! Que alívio) disparado da arma de um policial bem no meio da cabeça da refém (Como assim???). Um ex menino de rua morto por asfixia pela brutalidade dos policiais ao tentarem detê-lo. Engraçado que a todo o momento jurava que não seria tão difícil deter um ex menino de rua, altamente exausto depois de alguns dias fora de si, movido pelo pó (cocaína) e depois de uma tarde toda de tensão, alguém de magra estrutura, visivelmente mal alimentado... Porque com tanto estudo e técnica foram precisos mais de cinco policiais para deter o rapaz? Ou será que a intenção era outra?
E então ficam estas perguntas e a certeza da “caca” que estamos fazendo. Mas o que mais me assusta não é a brutalidade do caso, mas sim a tua postura diante do fato. O ex menino de rua de nossa história tinha nome e uma vida repleta de horrores. Sandro, deve ser o nome de algum conhecido seu que diferente do nosso Sandro teve oportunidade na hora certa. O nosso Sandro morreu, mas mesmo assim outros Sandros estão por aí e devem ter te pedido dinheiro no semáforo quando tu estavas a caminho do shopping.
Os policiais também têm nome e uma história pra contar (sempre há o que dizer depois dos erros constatados e normalmente é “nada a declarar”), mas pior do que isso, eles continuam atuando como policiais e fazem a tua segurança! Não é um alívio? Agora quem não tem nada a declarar sou eu.
P.S.: Essa história não acabou... Olha embaixo do viaduto para veres a continuação dela. Um abraço e continue tendo um bom dia (fácil assim né?)! (Escrito por Helen L.R.)
Cena real mostrando o exato momento em que o policial treinado (a direita) acerta a cabeço da refém (de braços abertos na frente do Sandro).
Para mais informações assista o documentario "Onibus 174".
Link ilustrativo: http://www.adorocinema.com/filmes/onibus-174
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